Entrevista de Ren Zhengfei com a CBS

19 de fevereiro de 2019

O fundador da Huawei, Ren Zhengfei, sentou-se para uma entrevista com a CBS. Veja a seguir a transcrição completa (as partes de Ren da transcrição foram traduzidas da gravação da entrevista pela Huawei):

P1: Muito obrigado por reunir-se com a gente. Você raramente dá entrevistas. Por que decidiu fazer isso agora?

Ren: Na maioria das vezes, falo dentro da empresa. Na verdade, falo com diferentes equipes quase todos os dias. Tenho a tendência de prestar mais atenção à gestão interna na Huawei e não me sinto na obrigação de me envolver em comunicações externas. Acho que isso é responsabilidade dos nossos presidentes rotativos, as pessoas que realmente fazem o trabalho. Quero fazer mais em termos de gestão interna, então não me envolvo com a mídia com tanta frequência.

No momento, estamos em uma situação sem paralelos. Nosso departamento de relações públicas acha que eu tenho muita influência, então me pediram para falar mais a fim de ajudar a nos comunicar melhor com o mundo lá fora.

P2: O nome da sua empresa está em muitas manchetes. Há muitas denúncias e acusações contra sua empresa, especificamente, contra sua filha, que está em prisão domiciliar em Vancouver, acusada de violação de sanções com o Irã. Como vai ela?

Ren: No passado, a Huawei não era uma empresa bem conhecida. Construímos redes de telecomunicações, e nossos clientes eram apenas cerca de 300 grandes empresas em todo o mundo. Quando começamos a fabricar produtos de consumo, nosso nome começou a se tornar conhecido. Agora, muitas pessoas nos conhecem como fabricante de smartphones. É claro, algumas pessoas gostam dos nossos telefones e outras não. Aquelas que não gostam das nossas coisas não prestam muita atenção em nós. Agora, os EUA estão apresentando denúncias contra nós. Eles são um país incrivelmente poderoso e, de certa forma, garantiram que o mundo inteiro passasse a conhecesse a Huawei. Talvez os EUA não saibam dizer se a Huawei é ou não uma boa empresa por enquanto, mas isso certamente nos ajudou a divulgar nosso nome. Agora, todos conhecem essa empresa chamada Huawei e, por isso, gostaríamos de lhes agradecer pela publicidade.

As acusações feitas contra nós não são um veredicto. Elas são apenas os primeiros passos de uma ação judicial. Podemos resolver essas questões por meio de procedimentos legais. Vamos deixar os tribunais decidirem. Acredito que a prisão de Meng Wanzhou no Canadá tenha sido politicamente motivada. Minha filha é uma pessoa muito legal que estuda muito e trabalha duro. Ela foi responsável pela criação do sistema de gestão financeira da Huawei, que é um dos melhores do mundo.

Wanzhou também é muito corajosa. Logo após o enorme terremoto no Japão, aquele com o tsunami e a crise nuclear, ela pegou um avião de Hong Kong para Tóquio para ajudar no trabalho de socorro. Havia apenas dois passageiros naquele voo, e ela era um deles. Depois que Wanzhou foi presa no Canadá, uma jovem em Tóquio até escreveu a ela uma carta de agradecimento, que foi publicada na mídia japonesa. Wanzhou está atualmente em prisão domiciliar e está usando esse tempo para fazer vários cursos online de desenvolvimento pessoal. Ela sente que o tempo é precioso e não quer desperdiçá-lo.

Às vezes, nos falamos por telefone. Nossas chamadas não são privadas, então apenas jogamos conversa fora e fazemos algumas piadas entre nós. Pelo que posso dizer, ela está de bom humor.

P3: Sei que ela também fez aniversário na semana passada. Deve ser difícil para você perder o aniversário da sua filha.

Ren: Acho que esse aniversário é muito significativo para ela. Como diz um velho ditado chinês: "Grandes homens surgem das adversidades". No final das contas, essas cicatrizes vão se transformar em uma armadura. As adversidades que ela está enfrentando agora serão um evento decisivo. Isso lhe dará asas, e acho que ela sairá mais madura.

Wanzhou sempre foi muito trabalhadora desde criança, mas nunca passou por grandes contratempos. Esse revés deixará uma marca em seu memória que o tempo não vai conseguir apagar. Isso a deixará mais madura. E mais forte também. Nesse sentido, acho que este é um aniversário bastante significativo para ela.

P4: Você disse que as acusações contra ela são politicamente motivadas. Sem dúvida, ela está enfrentando extradição para os Estados Unidos. São acusações sérias contra ela. Se condenada, ela poderia passar 30 anos na prisão nos Estados Unidos. Por que você chama essas acusações de politicamente motivadas?

Ren: Os sistemas jurídicos nos EUA e no Canadá são abertos, justos e equitativos. Eles acabarão por divulgar suas evidências e permanecerão transparentes durante todo o processo. Receio que só poderei responder às suas perguntas depois de chegarem a um veredicto no tribunal.

P5: A acusação alegou que a Huawei defraudou quatro grandes bancos, incluindo o HSBC, em operações de compensação bancária com o Irã, e que, é claro, estaria violando as sanções internacionais. Segundo as denúncias, isso teria sido feito por meio de uma subsidiária chamada Skycom. Qual é o seu relacionamento com a Skycom?

Ren: Essas questões estão atualmente em processo judicial. Teremos que esperar por um veredicto antes de respondermos a perguntas como esta.

P6: Você tem alguma declaração a respeito de se a Huawei violou ou não as sanções internacionais?

Ren: Mais uma vez, isso cabe aos tribunais decidir.

P7: No passado, você mencionou que se sentia culpado pela ação judicial contra sua filha. Por quê?

Ren: Acho que não estive muito presente quando meus filhos eram jovens. Passei a maior parte do meu tempo trabalhando.

P8: Você disse que se sentiu culpado como pai. Por quê?

Ren: Entrei para o exército quando meus filhos ainda eram muito jovens e ficava longe de casa 11 meses por ano. Durante o mês em que estava em casa, eles tinham escola e lição de casa. Não tive muito tempo com eles. A mãe deles foi a principal responsável por sua criação e educação. Não éramos muito próximos.

Depois que eu fundei a Huawei, foi muito difícil garantir a sobrevivência da empresa. Tinha que trabalhar 16 horas por dia no escritório ou trabalhar em outras atividades de negócios. Ou seja, não fui capaz de cuidar dos meus filhos enquanto eles cresciam ou iam para a escola. Eu fui muito ausente a esse respeito.

P9: Deve ser difícil para você, não só como CEO que corre o risco de perder seu CFO, mas também como pai ver sua filha diante de uma possível extradição e talvez até mesmo prisão. Como você se sente nesses dois papíes, o de CEO e o de pai?

Ren: Acho que estou bem na verdade. Porque acredito que o sistema jurídico respeitará os fatos e as evidências, e os tribunais seguirão seus princípios de abertura, justiça e imparcialidade. Vou aguardar a decisão dos tribunais. Isso não afetará em nada o trabalho da empresa, porque operamos com base em um conjunto maduro de processos e sistemas. Nenhuma pessoa sozinha pode afetar as operações de toda uma empresa.

P10: Quero voltar ao que você disse antes, chamando a prisão da sua filha de politicamente motivada. Considerando o momento da prisão dela, em meio a uma negociação comercial e uma possível guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, você acha que você, sua empresa ou sua filha estão sendo usados como uma ferramenta estratégica?

Ren: Tanto a China quanto os EUA são grandes potências, como duas enormes bolas de demolição. A Huawei é como um pequeno tomate. Se essas bolas querem colidir uma contra a outra, como poderíamos ficar no caminho? É simplesmente impossível. E tentar fazer isso não criaria nenhum valor. Meng Wanzhou não é uma ferramenta valiosa nessa equação. Eu diria que o caso dela não tem muito a ver com a guerra comercial entre China e EUA. Os dois países precisam ajustar seu relacionamento por meio da política, leis e instituições. Indivíduos como nós não desempenham um grande papel em assuntos como esse.

Enquanto isso, à medida que a guerra comercial entre China e EUA se intensificou, a Huawei teve um crescimento muito maior em janeiro de 2019 em comparação ao mesmo mês do ano passado. Portanto, a guerra comercial não teve muito impacto sobre nós. E também não há como a Huawei ter um impacto sobre a guerra comercial.

P11: O presidente Trump teria dito que consideraria intervir em nome de sua filha, e muitos acreditam que isso seria parte de um acordo comercial bem maior. Qual foi a sua reação ao ouvir isso do presidente Trump?

Ren: Não tive reação. O presidente Trump adora twittar seus pensamentos. Ele é um presidente direto. Mas ainda acho que a situação com Meng Wanzhou deve ser tratada por meios jurídicos.

O Sr. Trump é um grande presidente. Ele foi capaz de reduzir os impostos dos EUA em um período de tempo relativamente curto. Isso é difícil de fazer, especialmente em um país democrático. Todos os países democráticos adoram um debate: As pessoas debatem e argumentam por um longo tempo para chegar a um consenso. Os impostos norte-americanos passaram de altos para baixos, e eles chegaram a um consenso relativamente rápido, transformando-o em lei. Isso será bom para a economia dos EUA nos próximos cem anos. Quando as alíquotas de impostos são mais baixas, há menos ônus para as empresas e, portanto, elas podem crescer mais rapidamente. Isso irá estimular a sociedade por um período de rápido crescimento. A abordagem do presidente Trump [aos impostos] é uma ótima iniciativa.

Tenho dito o tempo todo que a China deveria cortar os impostos. Isso dá às empresas uma trégua, para que elas possam reunir forças e criar mais concorrência. Os cortes de impostos são relativamente lentos na China. O país tem um fardo pesado. Muitas regiões da China ainda estão empobrecidas. O país precisa de dinheiro para ajudar a resolver isso, então eles não podem cortar os impostos de uma só vez, apenas aos poucos. Então, o que o presidente Trump fez a esse respeito é muito bom.

Porém, tem outra coisa que eu gostaria de dizer. Se o presidente Trump continuar intimidando outros países e empresas, e prendendo pessoas aleatoriamente, isso vai assustar os investidores. E então, como eles vão compensar a receita fiscal perdida?

Eles cortam os impostos para incentivar o investimento. As receitas fiscais de novos investidores podem ajudar a preencher essa lacuna, e os EUA continuarão a prosperar. Acho que os EUA deveriam mudar suas políticas. Eles deveriam ser mais amigáveis com as empresas. Se não fizerem isso, ninguém vai querer investir, pois há riscos. Isso gera um grande impacto. Resolver esse problema também é importante para a imagem dos EUA no exterior.

P12: Você espera que o presidente Trump intervenha em nome de sua filha?

Ren: Não sei dizer sobre isso, pois não o conheço. Nunca tive nenhum contato com ele, então não acho que eu esteja realmente em posição de comentar sobre isso de uma forma ou de outra. Se ele fosse meu amigo, eu seria capaz de compreendê-lo completamente. O fato é que a única coisa que eu sei sobre ele vem de seus tweets e discursos. Acho que ele marcou alguns pontos positivos em seu discurso recente sobre o Estado da União. Li o discurso de ponta a ponta. Ele é bom.

P13: Você fala muito bem do presidente Trump, mas ele provavelmente emitirá uma ordem executiva proibindo sua empresa de fazer negócios nos Estados Unidos. Como você concilia os dois lados?

Ren: Para ser honesto, não tivemos muitos negócios nos EUA ao longo dos anos, mas nunca desistimos desse país. Continuamos tentando, e isso porque respeitamos os EUA. Se eles não nos deixarem vender, então não vamos vender.

No entanto, alguns políticos dos EUA estão dizendo que a Huawei é uma ameaça à segurança. Mal temos equipamentos lá, como poderíamos representar uma ameaça à segurança? Se os EUA estiverem seguros sem a Huawei, talvez eles possam usar isso para convencer outros países do mundo. Mas, as redes dos EUA são realmente seguras? Suas informações estão seguras?

Se os EUA mal conseguem gerenciar a segurança mesmo quando a Huawei não está lá, é um equívoco acreditar que eles possam se proteger apenas nos mantendo fora do jogo. Cada país e cada cliente tem a opção de trabalhar conosco ou não. Operamos em uma economia de mercado e podemos aceitar isso. Vendemos nossos produtos em muitos países do mundo, e muitas operadoras não os compram. Mas isso não cria nenhum rancor da nossa parte. Há muitas justificativas para se não comprar de alguém, e não há como a Huawei se apossar de todos os mercados. Existem mercados em todos os lugares, mas não temos produtos suficientes para atendê-los. Se os EUA nos banirem, isso significa que a lei dos EUA não nos permite vender lá. E, se esse for o caso, não venderemos lá. E ponto final.

Porém, outras empresas podem ir ao mercado dos EUA, o que ainda é bom para a economia dos EUA. Acredito que a nova política fiscal [dos EUA] seja excelente. É muito difícil de conseguir, mas os EUA se deram bem. Isso é difícil em qualquer país. Você tem que equilibrar cortes de impostos com outros fatores, incluindo gastos, a rede de segurança social e coisas do tipo. Mas os EUA concretizaram a estratégia. É uma grande nação.

P14: Você falou sobre a grande questão aqui, de que o governo dos Estados Unidos e as agências de segurança acreditam que você fornece um backdoor para o serviço de inteligência chinês. Você pode rebater isso categoricamente?

Ren: Como mencionei em entrevistas anteriores, absolutamente não fizemos e nunca faremos algo assim. Em primeiro lugar, nunca nos envolvemos em qualquer forma de espionagem e nunca permitiríamos que nossos funcionários participassem desse tipo de comportamento. Em segundo lugar, não instalamos e nunca instalaremos backdoors em nossos equipamentos.

Alguns perguntam, mas e se a lei chinesa exigir a instalação de backdoors? Eu recusaria isso categoricamente. Com certeza não vou responder a nenhuma exigência de instalação de backdoors.

Na Conferência de Segurança de Munique em 16 de fevereiro de 2019, Yang Jiechi, membro do Departamento Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (CPC) e Diretor do Escritório da Comissão de Relações Exteriores do Comitê Central do CPC, deixou muito claro:

Primeiro: A lei chinesa não exige que as empresas instalem backdoors.

Segundo: O governo chinês sempre exige que as empresas chinesas cumpram as regras, as leis e os regulamentos internacionais dos países em que operam.

O governo chinês foi claro e eu também estou sendo claro. Nossa mensagem é a mesma: Não há backdoors.

Nos últimos 30 anos, a Huawei já atendeu três bilhões de pessoas em mais de 170 países e regiões. Mantemos um histórico fantástico em segurança cibernética há três décadas, e isso confirma o fato de que nossos equipamentos não têm backdoors. E vai continuar assim pelos próximos 30 anos. Somos inequívocos sobre isso.

Posso afirmar claramente aqui: Ninguém nunca nos instruiu a fazer isso e ninguém jamais o fará. Deixamos tudo muito claro a esse respeito, e o governo chinês reiterou isso na Conferência de Segurança de Munique.

P15: Você disse que nunca aceitaria instruções desse tipo do governo chinês, mesmo que eles viessem até você. Isso não o colocaria fora dos negócios? Como você pode dizer Não ao governo chinês?

Ren: Como acabei de dizer, Yang Jiechi, membro do Departamento Político do Comitê Central do Partido Comunista da China, declarou expressamente na Conferência de Segurança de Munique que essas exigências não existem na legislação chinesa.

Ele é um alto funcionário do Partido Comunista da China e fala em nome do governo chinês. Então, quando eu digo "não", isso está de acordo com o que o estado exige. Não há problemas de segurança.

P16: Seu atual presidente disse que a Huawei está sendo acusada de mentir e fazer intimidações injustas e imorais. Você acredita que os Estados Unidos estejam atualmente intimidando a Huawei?

Ren: Acho normal que um país questione uma empresa. Mas isso precisa ser feito por meio de um processo legal e do sistema jurídico dos EUA. Precisamos de um processo aberto e justo para determinar quem está certo e quem está errado.

Nos últimos 30 anos, estivemos envolvidos em vários processos nos EUA e não perdemos nenhum deles. Isso mostra pelo menos que a Huawei tem se saído relativamente bem a esse respeito.

Se formos capazes de usar os tribunais para resolver questões como esta, acho que os comentários do nosso presidente serão comprovados como estando corretos. Devemos deixar o processo legal seguir seu devido curso, pois os EUA são um país que segue o estado de direito.

P17: Você acredita que os Estados Unidos estejam tentando tirar a Huawei dos negócios?

Ren: A Huawei sairá do mercado? Acho que não. Estamos cheios de vida. É possível que a pressão dos EUA esteja realmente nos tornando mais motivados e nos levando a trabalhar ainda mais.

Alguém disse uma vez: "A maneira mais fácil de derrubar uma fortaleza é atacá-la por dentro". Quero dizer que a pressão externa simplesmente tornará uma fortaleza mais unida, resistente e eficiente. Como ela poderia desmoronar?

Muitos dos nossos clientes trabalham conosco há mais de duas décadas. Eles conhecem bem a Huawei e sabem o que nos motiva. Os consumidores tomam suas próprias decisões e não decidem comprar algo ou não só porque alguém lhes disse para fazer isso. Estamos confiantes de que continuaremos a sobreviver e prosperar. Isso não terá um impacto significativo sobre nós.

P18: Perguntei isso porque o vice-presidente Pence e o secretário Pompeo estiveram na Europa na semana passada, tentando convencer os aliados dos EUA a não usar produtos Huawei enquanto a empresa implementa a tecnologia 5G. Na Conferência de Segurança de Munique, o vice-presidente Pence, disse: "Não podemos garantir a defesa do Ocidente se nossos aliados se tornarem dependentes do Oriente". Você vê isso como uma ameaça?

Ren: Primeiro, preciso lhes dar meus agradecimentos. Ambos estão assumindo uma grande tarefa para seu país. Vi as divulgações financeiras de Mike Pence. Ele tem apenas cerca de US$ 15.000 em economias pessoais e US$ 15.000 para a educação de seus dois filhos. Como funcionário do governo, ele está lutando pela política e por seus ideais. Isso, na minha opinião, faz dele uma excelente pessoa. Mike Pompeo também é um grande homem, com doutorado em ciências políticas pela Universidade de Harvard.

Eles estão anunciando a tecnologia 5G da Huawei em todo o mundo. Antes, ninguém sabia realmente o que era a 5G. Agora, o mundo inteiro sabe sobre a 5G e, conforme as pessoas começam a se inteirar melhor sobre o assunto, percebem que a Huawei é a melhor em 5G. Apenas a nossa 5G é a melhor do mundo. Isso ajudou a expandir nosso impacto. Estamos vendo mais contratos, e não menos. E eles estamos aparecendo mais rápido do que antes, inclusive na Europa.

É por isso que eu disse que preciso lhes agradecer por divulgar nosso nome, e tudo isso de graça. Então, sou muito grato a eles. Por favor, expresse a eles meus agradecimentos.

P19: Estou sentindo um pouco de sarcasmo aqui.

Ren: Não, não estou sendo sarcástico. A Huawei é uma empresa, e os EUA são uma grande nação. Nosso conflito com os EUA e suas principais autoridades ajudou a divulgar nosso nome.

P20: Tenho certeza de que eles vão assistir à nossa entrevista e fazer suas próprias interpretações. Uma das preocupações que eles estão tentando expor aos aliados na Europa é de que a 5G da Huawei está intimamente relacionado à tecnologia militar. Os EUA parecem estar dizendo que poderão reconsiderar o envio de tropas norte-americanas em certos países europeus se estes continuarem a usar a tecnologia da Huawei. Qual é a sua resposta a isso?

Ren: Para começar, eles parecem ver a 5G como um tipo de equipamento para controle militar. A 5G não é uma bomba atômica. Bombas atômicas ferem pessoas e causam problemas de segurança, mas a 5G traz benefícios para as pessoas e nos oferece conexões e canais de informações. Esses canais e conexões são controlados por operadoras e governos. Nós fornecemos apenas equipamentos, semelhantes a tubos de água e torneiras. Eles não serão uma grande ameaça à segurança. Depois de todo esse sensacionalismo, as pessoas acabarão se acalmando e verão como são os nossos equipamentos de verdade. Pensamos que a Europa fará sua própria avaliação. E não estou sendo sarcástico. Nunca disse o contrário à mídia. Estamos contentes em ver a publicidade que eles fizeram por nós. De fato, muitos países não levam a Huawei muito a sério e nem mesmo sabem quem somos. Essa publicidade ajudou a aumentar o perfil da Huawei e a expandir nossos mercados. Os contratos então entrando mais rapidamente. Devido aos acontecimentos recentes, as vendas dos nossos produtos de consumo aumentaram 68% em janeiro. Portanto, acredito que isso não será uma grande crise para nós e não nos afetará muito.

Antes que os países ocidentais digam que a Huawei representa uma ameaça ao Ocidente, eles deveriam primeiro avaliar as contribuições da Huawei para a sociedade. Em primeiro lugar, fornecemos serviços a três bilhões de pessoas em 170 países e regiões e contribuímos muito para reduzir o fosso digital, por exemplo, dando aos países pobres acesso a informações e oportunidades de educação. A China está à frente de muitos países em termos de desenvolvimento de redes e agora está vendo um declínio nos índices de pobreza. Isso ocorre porque as pessoas têm acesso a novas informações, novas tecnologias, novos empregos e novas técnicas de vendas. Trazemos benefícios para a humanidade. Não somos uma ameaça à sociedade e nunca causaríamos danos a ela.

Em segundo lugar, temos mais de 80.000 patentes. Esta é a nossa contribuição para a edificação da sociedade digital. Mais de 11.500 dessas patentes principais foram concedidas pelo governo dos EUA, dando-nos direitos legítimos. Somos um grande colaborador para o desenvolvimento das informações dos EUA, w não uma ameaça. 

Quanto à questão sobre os backdoors, esclareci muitas vezes que não há absolutamente nenhum backdoor em nossos equipamentos. Nunca correríamos esse risco e faríamos algo que não deveríamos fazer.

P21: Você alguma vez forneceu ao governo chinês qualquer tipo de informação, de qualquer maneira ou formato, sobre clientes ou consumidores, mesmo sendo um cliente local nacional?

Ren: Nos últimos 30 anos, a Huawei nunca fez isso. E acredito que nunca faremos isso no futuro. 

P22: A Huawei poderia ter um backdoor sem o seu conhecimento?

Ren: Isso é impossível. Todos os nossos departamentos, de cima para baixo, enfatizaram que backdoors não são permitidos. Os equipamentos da Huawei não têm backdoors. Se existissem backdoors, os EUA já os teriam descoberto há muito tempo, pois eles já têm tecnologias avançadas para isso. 

P23: Apesar das advertências dos Estados Unidos, os serviços de inteligência do Reino Unido afirmaram que podem atenuar os riscos e que provavelmente continuarão a fazer negócios com a Huawei enquanto a empresa implementam a tecnologia 5G, e a Nova Zelândia também disse que vão analisar o acordo que uma vez eles baniram. Você vê isso como um desagravo contra as acusações dos Estados Unidos?

Ren: Acho que não. Acho que os EUA estão lembrando a todos de que pode haver alguns problemas e de que eles precisam avaliar esses problemas. Estabelecemos um centro de avaliação de segurança cibernética no Reino Unido, onde nosso código-fonte está sujeito a inspeção pelo governo do Reino Unido. Durante nossa parceria de 10 anos com o Reino Unido, nunca houve um incidente de segurança sequer. A Huawei construiu "paredes" bastante sólidas. Temos a melhor capacidade de defesa do mundo. A empresa norte-americana Cigital fez uma avaliação, afirmando que nossos sistemas são os mais fortes em termos de prevenção contra ataques. Quando o governo do Reino Unido verificou nosso software detalhadamente, descobriu que o código não estava de acordo com os padrões deles. Mas, por quê? Porque éramos uma empresa pequena há 30 anos. O código que escrevemos no passado não está à altura dos padrões de hoje. Agora, eles nos pedem para fazer melhorias no código em execução nas redes operacionais do Reino Unido e reestruturar essas redes usando novos padrões de software projetados para os próximos 30 anos. Por isso, decidimos gastar 2 bilhões de dólares para melhorar o código-fonte nessas redes. O Reino Unido concluiu que a questão que gira em torno da Huawei é administrável, já que tivemos dez anos de parceria. O Reino Unido apresentou os fatos: As pessoas dizem que pode haver problemas com a Huawei, mas que estes são administráveis.

No futuro, a tecnologia vai se desenvolver com ainda mais rapidez, e o tráfego das informações aumentará, exigindo equipamentos de grande capacidade. Continuamos cautelosos a esse respeito. No passado, era necessário um andar inteiro de um edifício para abrigar equipamentos que atendiam a 100.000 usuários. Hoje, um espaço muito menor como esse seria suficiente para abrigar equipamentos que atendem a milhões de usuários. Também estamos preocupados com incidentes de segurança ou falhas causadas por tecnologias de rede. Um pequeno incidente pode ter um grande impacto, mas não houve nenhum.

Recentemente, as redes de algumas empresas sofreram interrupções em muitos países. Não acho que essas empresas sejam tão culpadas. No entanto, elas precisam aceitar o que aconteceu e fazer melhorias. Nenhuma empresa será sempre bem-sucedida no campo de rede, nem mesmo a Huawei. Porém, temos sistemas bem projetados para prevenir e resolver problemas de rede. Segurança cibernética e segurança das informações são duas coisas diferentes. Vendemos tubos de rede e vendemos equipamentos para operadoras que decidem o que passa por esses tubos. Isso não está em nossas mãos.

P24: Então, qual é a sua resposta ao ouvir a diretora da CIA, Gina Haspel, dizer que nunca usaria um produto da Huawei por causa das preocupações com a segurança e as informações? O diretor da NSA também disse que não usaria seus produtos, e o ex-diretor da CIA, Michael Hayden, disse que tem provas suficientes para se convencer de que a Huawei está fazendo espionagem para a China.

Ren: Essas pessoas podem não usar nossos equipamentos diretamente. No entanto, o governo dos EUA gasta 85 bilhões de dólares em equipamentos de TI todos os anos, e várias patentes da Huawei são usadas na criação desses equipamentos. A Huawei é uma colaboradora significativa para o desenvolvimento da TI e talvez sejamos uma das principais empresas em termos de TI. A 5G será amplamente utilizada em todo o mundo, e os produtos 5G, não importa de onde sejam, são construídos com base nas contribuições da Huawei.

Achamos compreensível alguns clientes dizerem que não usarão nossos produtos. O mundo é enorme. Não podemos esperar que todos usem nossos produtos e também não temos a capacidade de atender a todos. Suas opiniões são compreensíveis, e aceitamos que as pessoas tenham opiniões diferentes sobre nós. Só nos esforçamos para atender bem aos clientes onde existe a oportunidade de fazer isso e vamos sair de onde enfrentamos rejeição.

P25: Eles talvez achem difícil acreditar, não importa o quanto seja negado, que você pudesse dizer não ou que tivesse qualquer oportunidade de dizer não à China se alguma vez o governo o abordasse sobre o uso do acesso via backdoor a quaisquer informações de clientes.

Ren: Um alto funcionário do governo chinês fez uma declaração na recente Conferência de Segurança de Munique. Esses políticos dos EUA deveriam confiar no que o governo chinês disse. É errado usar suposições como prova de supostos crimes. A evidência deve ser algo real. É natural que alguém se recuse a usar os produtos da Huawei devido a preocupações. Não é muito diferente do que escolher roupas em um shopping center. Você não vai gostar de todos os modelos e, se não gostar deles, não vai comprar.

P26: Sabemos, de fato, que o presidente Trump nem sempre acreditou nas informações que seu comitê de inteligência lhe forneceu. Existe alguma coisa que você gostaria de dizer ao presidente Trump para desmentir o que seus consultores de inteligência estão divulgando agora sobre a Huawei?

Ren: Em primeiro lugar, os relatórios financeiros da Huawei foram auditados pela KPMG, uma empresa norte-americana, e esse mesmo procedimento tem sido feito nas últimas décadas. Esses relatórios de auditoria estão disponíveis online e revelam as questões da Huawei relacionadas a finanças e atividades de gestão.

Em segundo lugar, a Huawei é membro de mais de 300 órgãos normativos e enviou dezenas de milhares de propostas. Essas afiliações e apresentações atestam o que fizemos e como contribuímos para essas organizações. O Sr. Trump não precisa me perguntar como é a Huawei. Ele só precisa conversar com as grandes empresas e os principais cientistas nos EUA. Eles estão mais familiarizados com a Huawei do que os políticos norte-americanos, pois estão envolvidos com a Huawei há várias décadas. Esta é a melhor maneira de encontrar os exemplos certos para fazer julgamentos corretos sobre a Huawei. O Sr. Trump poderia até convidar os concorrentes da Huawei para uma xícara de café e ouvir o que eles acham da Huawei. A Huawei é um livro aberto, e toda essa transparência não é uma tarefa fácil.

P27: No entanto, sua concorrência no passado o acusou de roubar propriedade intelectual e tecnologia, em particular a T-Mobile. Você resolveu uma ação judicial com a empresa quando eles o acusaram de roubar um braço de seu robô chamado Tappy. Você disse que esse tinha sido o trabalho de alguns agentes, mas há evidências encontradas pelo FBI, que descobriu e-mails internos sugerindo que a empresa recompensava o roubo de propriedade intelectual. É esse o caso?

Ren: Deixamos muito claro que nunca recompensamos funcionários, ontem, hoje ou amanhã, por qualquer tipo de má conduta. Tomaremos medidas disciplinares contra qualquer pessoa com esse tipo de comportamento. Os casos da T-Mobile e da San Diego já estão em processo judicial e, por isso, precisamos aguardar as decisões do tribunal.

P28: Sejamos claros. Você nunca autorizou e-mails internos que recompensassem funcionários que roubassem propriedade intelectual de concorrentes?

Ren: Definitivamente tomaríamos medidas disciplinares contra funcionários que fizessem isso. Todos os funcionários que se envolverem nesse tipo de má conduta devem ser punidos. Se esse tipo de comportamento não fosse impune, nossa empresa não seria capaz de sobreviver neste mundo.

A Huawei é uma grande empresa. Temos mais de 180.000 funcionários, e nossa receita de vendas é superior a 100 bilhões de dólares. Se tolerássemos más condutas, teríamos muito mais problemas pela frente, e não apenas um ou dois processos judiciais. Não conseguiríamos manter nossas portas abertas. É por isso que nunca recompensaríamos esse tipo de comportamento. Não tem como.

Temos muito respeito pela propriedade intelectual. Estamos pressionando para que o governo chinês fortaleça sua proteção aos direitos de propriedade intelectual, e acho que a China precisa continuar protegendo esses direitos. A China só poderá se tornar um país inovador se proteger os direitos de propriedade intelectual da mesma forma que protege outros direitos de propriedade.

Os EUA se tornaram a nação mais poderosa do mundo em pouco mais de 200 anos. Essa conquista é atribuível à sua forte defesa dos direitos de propriedade intelectual. Precisamos respeitar os EUA por isso e aprender com eles.

P29: E vocês estão seguindo rapidamente o exemplo e chegando cada vez mais perto; [vocês são] a segunda maior economia agora. É impressionante as dimensões e o tamanho da Huawei. Vocês estão em 170 países e são uma empresa privada. Vocês recebem, ou receberam no passado, algum subsídio do governo chinês?

Ren: A Huawei não recebe subsídios do governo chinês, exceto de algumas entidades que apoiam pesquisas científicas. Tudo isso está claramente listado no nosso relatório anual auditado pela KPMG. Na maioria das vezes, porém, não aceitamos subsídios do governo. Aceitamos alguns para pesquisas básicas, projetos de pesquisa de padrões nacionais ou outras coisas em que o país esteja trabalhando, mas seu número é bastante limitado. Mais uma vez, você pode ver tudo isso em nossos relatórios financeiros. Também recebemos alguns subsídios de governos europeus para pesquisas básicas.

P30: A alegação é de que não há um campo de igualdade para os seus concorrentes e, de fato, a Huawei tem a garantia de pelo menos um terço dos contratos de rede 5G da China, o que não é o caso para os concorrentes estrangeiros. Isso é justo na sua opinião?

Ren: Ninguém tem uma participação de mercado garantida como essa. Todas as empresas precisam competir por isso.

P31: Por que não? Estou curioso, vamos falar mais sobre isso. Por que não comparar a Huawei com a ZTE?

Ren: Porque a Huawei e a ZTE são empresas completamente diferentes. Não sei muito sobre a ZTE. Por que todos sempre comparam a Huawei com a ZTE? Realmente não sei que tipo de empresa eles são. Na verdade, nos envolvemos mais com a Ericsson e a Nokia. A participação de mercado de uma empresa é determinada por práticas de concorrência, e a nossa participação de mercado fora da China é maior do que dentro da China. Nós nos concentramos principalmente em nossos negócios no exterior.

P32: Você acha que há um campo de igualdade para os concorrentes na China agora?

Ren: Acho que competimos com base em quem produz os melhores produtos. A história provará isso. Nos anos 80, quando a China começou a implementar a política de reforma e abertura, quase todos os produtos no mercado chinês eram de empresas estrangeiras. Não cabe mais ao governo decidir de onde as pessoas obtêm seus produtos. Todas as aquisições hoje seguem regras de economia de mercado. As propostas são avaliadas de forma aberta e justa. Não acho que haja algum tratamento especial para fornecedores domésticos aqui.

P33: Você acha que esta é a política que o presidente Xi defende?

Ren: Acho que a China está defendendo mais abertura em sua política. Talvez você tenha ouvido algumas das observações do presidente Xi Jinping na China International Import Expo. Ele disse que a China permitiria capital estrangeiro no setor financeiro, diminuiria gradualmente as tarifas para o setor automotivo nos próximos cinco anos, aprovaria totalmente as empresas automotivas de propriedade estrangeira e abriria todos os setores de manufatura. Teremos exatamente as mesmas políticas para empresas chinesas e estrangeiras. A exposição é um bom exemplo da abertura da China em termos de política.

Em dezembro passado, durante a comemoração do 40º aniversário da reforma e abertura da China, o país mostrou maior consideração pelas empresas privadas, para que elas pudessem receber um tratamento mais justo. Nas últimas três décadas, as empresas estrangeiras foram tratadas como "VIPs", as empresas estatais foram tratadas como "filhas" e as empresas privadas, como "sobrinhas". Estamos mais embaixo no pódio do que vocês. Gostaria que estivéssemos na mesma posição que as empresas estrangeiras. No entanto, esse foco em empresas estrangeiras ajudou a China a sair da pobreza e a se desenvolver. Além disso, o influxo de empresas estrangeiras também estimulou o progresso e o desenvolvimento industrial da China. As empresas chinesas perceberam a força de suas contrapartes estrangeiras e aprenderam muito com elas.

Estar aberto é fundamental para o futuro da China. E somente por meio de reformas as empresas chinesas prosperarão. Acredito firmemente nisso. Nunca apoiei a ideia de excluir empresas estrangeiras. Mesmo quando algumas empresas estrangeiras tentavam nos prejudicar, na Huawei, nunca as vimos como inimigas. Em vez disso, nós as chamamos de parceiros, o que, em chinês, significa literalmente nossos amigos de negócios. Não as tratamos mal, e isso fez com que conquistássemos o respeito de nossos clientes. Talvez nossa participação de mercado seja um pouco maior por causa disso. Mas, se tivéssemos ainda mais, eu me sentiria mal. Não há motivo para ter tanto assim. Precisamos deixar um pouco do mercado para os outros.

P34: Este é um ponto de vista que você compartilhou com o presidente Xi?

Ren: Não tive a oportunidade de compartilhar esses pontos com o Presidente Xi. Estes são alguns dos nossos pensamentos derivados da nossa experiência de fazer negócios legalmente na China. Não tive a oportunidade de compartilhar nossos pontos de vista e, mesmo se eu fizer isso, talvez eles não me ouçam.

P35: Porque há uma visão no Ocidente de que o presidente está assumindo uma postura mais nacionalista no controle das empresas estatais, em vez de deixá-las mais independentes. Você acha que isso está prejudicando sua marca, seu nome e seus pontos de vista?

Ren: Precisamos analisar o que o presidente Xi disse para entender melhor suas ideias. No Boao Forum for Asia, ele anunciou muitas políticas de abertura. Depois disso, em novembro do ano passado, na China International Import Expo, ele anunciou muitas medidas que a China tomará para abrir seu mercado ao Ocidente. Em dezembro, durante a comemoração do 40º aniversário da reforma e abertura da China, ele anunciou que a China reforçará a reforma das empresas estatais. Todas essas medidas nada mais são do que reformas e aberturas. Na minha opinião, a China se tornará mais aberta e não fechará suas portas para o mundo. Vendo a China como estrangeira, você provavelmente não consegue sentir isso. Porém, nós nascemos e crescemos na China, então sabemos como o ambiente vem mudando gradualmente nos últimos 30 anos.

Quando a China começou a se abrir, era muito difícil conseguir um empréstimo de US$ 10.000 (cerca de CNY 80.000). Fazíamos tudo o que podíamos, mas mesmo assim não conseguimos um empréstimo tão grande quanto precisávamos. Mais tarde, conseguimos obter empréstimos como esse, e as coisas mudaram gradualmente. Então, não acho que a China vá seguir um caminho centrado em empresas estatais. A maior fraqueza da empresa estatal é sua ineficiência, o que leva a altos custos operacionais. Como a China ainda não construiu um sistema completo de impostos sobre recursos, as empresas estatais podem ter vantagens em algumas indústrias relacionadas a recursos. Porém, nas indústrias de comércio livre e aberto, as empresas estatais enfrentarão uma pressão muito maior.

P36: Muitos americanos acabaram de ouvir falar sobre sua empresa e seu nome. O que você gostaria que o público americano soubesse sobre a Huawei, e o que a Huawei traz com a 5G?

Ren: Em primeiro lugar, gostaria de expressar meus agradecimentos ao governo dos EUA. Sem sua campanha ostensiva, a maioria das pessoas não teria ideia de quem é a Huawei. Basicamente, temos poucas vendas nos EUA, e nossa presença no mercado é muito pequena, então os consumidores não sabem muito sobre a Huawei.

A mensagem que queremos transmitir ao povo americano é que podemos trabalhar juntos e compartilhar o sucesso. Uma sociedade de informações é diferente de uma sociedade industrial. Em uma sociedade industrial, um país poderia fechar suas portas e fabricar máquinas de costura por conta própria, por exemplo. Eles poderiam fazer isso sozinhos, sem a ajuda de outros países. O mesmo acontece com tratores, carros, trens e até mesmo navios.

Porém, agora estamos em uma sociedade de informações. Todos precisam trabalhar juntos e construir uma rede global, tijolo por tijolo. Nenhum país pode fazer isso sozinho. Todos os países do mundo precisam trabalhar juntos para construir uma sociedade para o futuro.

Quais contribuições podemos fazer para beneficiar o povo americano? Nossas redes são ótimas, então alguns dos nossos equipamentos podem ser adequados para os EUA. Cabe aos EUA decidir se querem ou não usar as nossas redes. Se eles optarem por não usá-las, podemos fornecer nossos produtos a outros mercados e retornar aos EUA depois de algum tempo. Mais cedo ou mais tarde, poderemos fazer nossas contribuições para os EUA.

P37: Há mais duas perguntas para você. Muito obrigado pelo seu tempo. Elas são mais sobre você pessoalmente. Li sua biografia, sei que você veio de uma das províncias mais pobres do país, seus pais eram professores e seu avô cuidava de porcos. Como alguém que veio de tão baixo tornou-se um dos homens mais ricos do país?

Ren: Cresci em uma remota região montanhosa da província de Guizhou, que é uma região pobre da China. Meus pais eram professores de escolas e dedicaram suas vidas à educação rural, pois acreditavam que ensinar crianças em áreas rurais era a única maneira de o nosso país se tornar próspero.

Tinha muitos irmãos, e meus pais enfrentavam várias dificuldades financeiras. Eles não podiam passar muito tempo conosco, então éramos crianças desobedientes. Eles nos deram mais liberdade e nos deixaram voar alto e livre, o que nos transformou em pessoas de intenso carácter. Hoje, a maioria das crianças na China são apenas crianças. Seus pais têm grandes expectativas para elas e, como as pessoas em geral estão muito melhor agora, tendem a superproteger os filhos. Quando nossa geração era jovem, ninguém nos controlava. Nós crescemos em um ambiente despreocupado, o que nos permitiu desenvolver plenamente nossos caráteres únicos. Podemos não ter estudado tanto, mas estávamos sob menor pressão.

Depois que crescemos, sabíamos que precisávamos nos esforçar para conquistar um lugar na sociedade. E foi exatamente isso o que fizemos.

Estudei todas as noites até 1 da manhã, todos os dias, durante quase 50 anos. Muitas pessoas pensam que eu parei de aprender, mas isso não é verdade. Não conseguiria administrar a Huawei se parasse de aprender. Décadas atrás, fiquei um pouco para trás no tempo, que passava rápido demais. Quando saí do exército, os computadores já estavam amplamente adotados na sociedade, mas eu não sabia o que era um computador. Cerca de 30 ou 40 anos atrás, muitos dos meus amigos foram estudar nos EUA ou no Canadá. Quando eles voltaram e compartilharam suas histórias conosco e nos contaram sobre coisas como supermercados, eu não fazia ideia do que eles estavam falando. Eles disseram que, em um supermercado, você simplesmente tirava de prateleiras tudo aquilo de que precisava. Mas como isso funcionava? Eu realmente não entendia o conceito.

Considere outro exemplo. Não entendíamos como um banheiro poderia estar ligado a um quarto. Isso era mesmo possível? Não cheirava mal? Eu não podia imaginar esse tipo de banheiro. Foi assim quando eu era jovem. Naquela época, a China estava relativamente isolada do restante do mundo, e não sabíamos que os EUA estavam tão avançados.

Quando comecei a conhecer melhor os EUA? Foi durante a Revolução Cultural, quando a China enviou uma delegação militar para visitar West Point. Depois disso, a estratégia de administração da West Point foi imitada na China. Isso ampliou meus horizontes pela primeira vez. Fiquei muito impressionado com o estilo de gestão. Pensávamos originalmente que os soldados americanos eram mimados e frágeis. Eles até bebiam café durante a guerra na Coreia, enquanto nós nem água tínhamos. Percebi que muito do que eu entendia sobre os EUA estava incorreto.

Demorou muito para mudarmos de uma era fechada para uma aberta. Antes da minha primeira visita aos EUA, pensei que tudo seria extremamente caro lá e que talvez não pudéssemos pagar muitas coisas. Como não tínhamos cartão de crédito, levamos muito dinheiro conosco. Depois de chegarmos aos EUA, descobrimos que era impossível gastar todo o dinheiro que trouxemos conosco, pois as coisas eram realmente muito acessíveis. Foi inacreditável. Não entendíamos como a economia de mercado ajudava a reduzir os preços e vimos muitas coisas novas que nunca havíamos visto antes.

A prosperidade nos EUA não foi roubada, foi construída. Ela pode ser atribuída ao trabalho árduo de vários indivíduos excepcionais. Muitas pessoas talentosas em todo o mundo vieram para os EUA para fazer invenções e gerar riqueza.

O que a Huawei deve aprender com os EUA? Precisamos ter a mente aberta e atrair as melhores pessoas para contribuir para o crescimento da empresa. O objetivo da empresa não é gerar riqueza para mim ou minha família. Ninguém pode ficar rico se a empresa não é lucrativa. Isso nos permitiu unir muitas pessoas que trabalharam juntas e fizeram gradualmente da Huawei o que ela é hoje.

Minha vida é realmente muito simples. Minha esposa muitas vezes me critica e diz que eu não tenho muitos amigos ou hobbies. Eu respondo que tenho hobbies: ler e escrever documentos. Gosto especialmente de trabalhar em documentos. Chego ao trabalho todas as manhãs depois de tomar café da manhã às 7:30. Acho que sou mais eficiente entre 8h e 9h e sempre escolho revisar e assinar documentos durante esse período. Também fico mais bem humorado entre 9h e o meio-dia e costumo participar de reuniões ou ouvir relatórios de trabalho. À tarde, não sou tão enérgico, então pego uma xícara de café e converso com os colegas para ouvir seus pensamentos, incluindo quaisquer comentários críticos.

Ouvi muitas críticas sobre mim e a Huawei em nossa comunidade Xinsheng. Se eu acho que um comentário crítico faz sentido, quero me sentar com essa pessoa e ouvir o que ela tem a dizer. Se alguém é realmente bom em criticar, provavelmente pediria ao departamento de RH que fizesse alguma pesquisa e descobrisse se essa pessoa está se saindo bem em seu próprio trabalho, já que ela sabe criticar tão bem.

Se essa pessoa teve um bom desempenho nos últimos anos e também fez boas críticas, então ela é certamente um excelente funcionário e devemos acelerar sua promoção.

Quando eu recomendo pessoas para uma rápida promoção, nossos outros executivos podem não concordar, mas mencionar isso gera um certo impacto. Eles podem começar a prestar mais atenção nessa pessoa e, com o tempo, alguns de nossos funcionários acabam realmente sendo promovidos.

Temos um excelente funcionário em um pequeno país da África. Quando minha esposa e eu o visitamos, ele me disse: "Chefe, esse ano, subi de cargo três vezes". Porém, mais tarde, o presidente de seu escritório regional me disse que esse funcionário, na verdade, havia sido promovido quatro vezes.

Por que a discrepância? O gerente geral do escritório no país disse que eles já haviam decidido promovê-lo novamente em dezembro, mas ainda não haviam lhe contado.

Esse cara tem só 26 anos, mas já está gerenciando um escritório na Huawei. Quando se trata de aproveitar ao máximo os talentos, não nos limitamos a um sistema extremamente rígido. Somos como os EUA a esse respeito.

Os EUA são um ótimo país. Muitas grandes mentes como Brzezinski, Kissinger, Madeleine Albright e George Soros vêm da Europa Oriental, mas conseguiram ocupar cargos importantes no governo dos EUA. Eles fizeram grandes contribuições para os EUA. Isso é resultado da abertura dos EUA. Precisamos aprender com os EUA e ser mais abertos. Isso nos fortalecerá, e é nessa direção que estamos trabalhando.

Tenho um foco bastante estreito. Está na minha personalidade. Portanto, nossa empresa também tem um foco estreito. Não estamos interessados em coisas como imóveis e nunca sairemos do nosso foco para ganhar dinheiro fácil em outras áreas. Fazemos as coisas mais difíceis e menos lucrativas, porque os outros não estão dispostos a fazê-las. A área mais difícil e menos lucrativo é a das telecomunicações. É a 5G. No momento, estamos implementando o 5G e, em breve, veremos a 6G também.

Em breve, teremos alguns equipamentos novos que serão ótimos para os EUA. Por exemplo, estamos liderando a indústria tanto em 5G quanto em tecnologias de microondas. Estamos criando equipamentos de ondas milimétricas, e nossas antenas são pequenas como um prato de jantar. Combinamos a 5G e a tecnologia de microondas para fornecer serviços de banda ultralarga a bairros remotos. Essa tecnologia de microondas pode suportar 100 Gbps, enquanto uma estação base 5G pode suportar 10 Gbps. Combinadas, essas duas soluções podem fornecer serviços de banda ultralarga para os bairros de luxo nos EUA.

Por que esses bairros não podem desfrutar dos serviços de banda larga agora? Porque a terra nos EUA é de propriedade privada. Haveria negociações complexas sobre a colocação de linhas de fibra sob o terreno das casas. Sem a fibra, muitas pessoas ricas nos EUA não podem aproveitar as vantagens da TV de 8K. Neste momento, temos a TV de 4K na China, mas os EUA ainda não. Os japoneses já têm acesso à 8K agora. Nossos equipamentos precisarão apenas de um poste de ferro e poderemos cobrir todas as casas em poucos quilômetros. Nenhum outro país ou empresa é capaz de fazer isso. Mas nós podemos e estamos mais do que felizes em vender essa solução para os EUA no futuro, se eles nos aceitarem.

Mais cedo ou mais tarde, os EUA vão nos conhecer e descobrir que realmente gostam de nós. Como diz mesmo o ditado? "Sem discórdia, sem concórdia." Podemos brigar um pouco, mas, quanto mais brigarmos, mais eles perceberão que não somos tão ruins assim. Acho que podemos nos tornar bons amigos. Podemos selar nossa amizade com um aperto de mãos. Vocês não precisam temer a Huawei como uma ameaça. Que ameaças podemos representar para o mundo? Um mundo em paz beneficia a todos. Por que no mundo iríamos querer nos envolver em alguma dessas coisas ruins?

Não há um conflito fundamental de interesses entre a China e os EUA. Com o programa Boxer Indemnity, os EUA começaram a fornecer financiamentos para a Universidade de Tsinghua, ajudando a desenvolver talentos na China. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos cidadãos americanos sacrificaram suas vidas para deter a disseminação do fascismo. Estas foram grandes contribuições para a humanidade.

Desde que a política de reforma e abertura foi lançada por Deng Xiaoping, a China e os EUA começaram a conversar novamente. A China cresceu de um país atrasado para o que é hoje. Não há um conflito fundamental de interesses entre a Huawei e os EUA.

Mesmo que os EUA nos procurassem e dissessem: "Ei, estamos abrindo nosso mercado para a Huawei", talvez não seríamos capazes de lidar com isso. Os EUA são enormes. São altamente desenvolvidos e têm uma demanda massiva. Podemos não ser capazes de acompanhar esse ritmo.

Temos problemas com fornecimento. Acho que nosso sistema de planejamento está desatualizado. Muitas pessoas gritam com nosso grupo de produtos de consumo. Eles dizem que nossos telefones estão fora de estoque, então acabam procurando minha ajuda. Mas nem eu consigo ter acesso a esses telefones! Você precisa comprá-los online, e nosso site não tem ideia de quem eu sou. O que adiantaria se eu avançasse o sinal agora?

Ainda estamos nos desenvolvendo, passo a passo. Um dia, confio que poderemos dar nossa contribuição para os EUA.

P38: Então, a pergunta final: Qual é a sua mensagem para quem diz que os Estados Unidos e a China estão inevitavelmente em rumo a uma colisão na guerra cibernética?

Ren: Espero nunca ver colisões entre países. A coexistência pacífica deve ser o nosso objetivo final, e eu não apoio uma corrida armamentista. Gastando menos com militares, os países podem gastar mais para melhorar as condições de vida da população.

Não deveria haver uma luta pelo espaço cibernético. A Huawei licenciou nossos direitos de propriedade intelectual tanto para a Apple quanto para a Qualcomm. Assinamos acordos de confidencialidade e, por isso, não posso divulgar segredos comerciais. Assinamos acordos de licenciamento de DPIs com várias empresas dos EUA. Coexistimos pacificamente com essas empresas, e não há desentendimentos entre nós.

Em níveis sociais, também não deve haver colisões. Se eu suponho que você é meu inimigo imaginário, e você tem a mesma visão que eu, então podemos acabar nos tornando verdadeiros inimigos. Mas, se eu suponho que você é meu amigo, posso ser mais gentil com você. Você pode me convidar para uma xícara de café, e eu posso levar você jantar um grelhado. Essas interações podem fortalecer nossa amizade.

A China e os EUA devem salvaguardar a paz mundial. Essa é uma grande responsabilidade para os dois países. A China ainda está muito atrás dos EUA, e muitos produtos fabricados na China são de baixo valor e preenchem algumas das lacunas [deixadas pelos próprios americanos]. Muitos produtos fabricados nos EUA são tecnologicamente sofisticados e têm grande valor. Isso significa que ambos os países podem comercializar seus produtos. Alguns políticos dos EUA disseram que o país não deveria vender chips para a China. Acho isso ridículo. Por que não vender seus produtos se você pode ganhar dinheiro? Se você não vende seu produto para uma empresa, está forçando-a a fabricar um produto semelhante um dia. Então, é ai que você não vai conseguir mais mesmo vender o seu produto.

Nosso mundo deveria ser um mundo convergente. A Internet não deveria ser um campo de batalha. Por que deveria haver guerra cibernética? Não acho que uma coisa assim chegará a acontecer, mas, se acontecesse, nunca me envolveria nisso.

Os produtos da Huawei são como canos de água, e a água, ou dados, por assim dizer, flui por eles. Nossas estações de base 5G são como torneiras de água que controlam o fluxo de água. Não temos controle sobre os equipamentos de rede. Somente as operadoras de telecomunicações têm esse controle. Elas gerenciam seus equipamentos com os produtos da Huawei, e a autoridade máxima ainda está com os países em que esses equipamentos são usados.

Não apoiamos nenhuma guerra potencial [cibernética]. Todos os países querem ter mais direitos de propriedade intelectual e fazer mais coisas, mas também se preocupam em pagar demais pelos DPIs dos outros. A Apple e a Qualcomm estão brigando uma com a outra, pois a Apple quer pagar menos, enquanto a Qualcomm quer ganhar mais. Este é um conflito de interesses comerciais, e não um conflito político, e acredito que será resolvido de uma maneira que crie benefícios para toda a sociedade.

Nosso ideal é trabalhar pelo bem maior de toda a humanidade. Caso contrário, não teríamos escalado 6.500 metros para instalar estações base no Monte Everest. Tivemos que arrastar todo esse equipamento 6.500 metros no ar. Foi extremamente difícil. Fui a algumas das estações base no acampamento base do Monte Everest. São 5.200 metros acima do nível do mar. Todos me disseram que eu não poderia ir. Eu disse que, se tivesse muito medo de arriscar meu pescoço, como poderíamos pedir que nossos engenheiros fizessem o mesmo? Até mesmo em países devastados pela guerra, você pode ver o pessoal da Huawei. Porque sem redes funcionando corretamente, haveria ainda mais baixas.

O pessoal da Huawei permaneceu em seus postos nos países africanos atingidos pela malária. Quando o terremoto atingiu o Japão, houve um desastre nuclear. Todos estavam preocupados com a radiação. Eles me chamaram. Eu perguntei qual era a gravidade da situação. Quando a primeira bomba atômica foi testada na China, muitos chineses foram assistir. Eles não tinham ideia do que era a radiação nuclear, mas saíram para presenciar e ovacionar o evento. Na época, isso causou muito poucos problemas de saúde. Então, quando os japoneses estavam sendo evacuados, nossos engenheiros estavam indo na direção oposta. Eles restauraram mais de 600 estações base. O governo japonês viu o que fizemos e nos elogiaram. Eles disseram "a Huawei é uma empresa japonesa". Esta é uma das razões pelas quais estamos nos saindo bem no Japão todos esses anos.

O tsunami na Indonésia custou dezenas de milhares de vidas. Nossa equipe, que era de apenas algumas dezenas de pessoas, conseguiu que suas redes voltassem a funcionar em apenas alguns dias. Minha esposa e eu também fomos visitar nossa equipe em um planalto da Bolívia a uma altitude de mais de 4.000 metros. Havia milhares de estações base lá.

Para ser sincero, não fizemos muito esse tipo de trabalho em países subdesenvolvidos. Muitas vezes, não podemos trocar o dinheiro que recebemos por dólares americanos. No Sudão, por exemplo, há muito dinheiro que nunca mais vamos ver. Isso também é o caso em muitos outros países. Porém, trabalhamos pelos nossos ideais, trabalhamos para atender às necessidades da humanidade. Se fôssemos uma empresa com ações negociáveis na bolsa, uma empresa dirigida por capital, trabalharíamos apenas em países lucrativos, e não naqueles em que não podemos ganhar dinheiro. Se esse fosse o caso, muitos países ficariam com pouca cobertura de rede. Não é assim que operamos. Nós trabalhamos para atender às necessidades das pessoas. Tudo bem se ganharmos menos. Na verdade, nós não ganhamos menos. Você acabou de dizer que eu sou uma pessoa rica. Você está certo, eu sou.

(Fechamento) Ren: Obrigado. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para dizer olá ao povo americano. Por meio de seu trabalho duro, eles deram um bom exemplo para o restante do mundo nos últimos séculos. Admiramos muito seu espírito materialista. Todos nós deveríamos aprender com eles.