O presidente rotativo da Huawei, Eric Xu, fala sobre um fundo de US$ 2 bilhões para reforçar a segurança por meio de melhorias nos recursos de engenharia de software

- Entrevista de Eric Xu à mídia britânica em 13 de fevereiro de 2019

Durante uma entrevista com 6 representantes da mídia britânica em 13 de fevereiro de 2019, o presidente rotativo da Huawei, Eric Xu, apresentou respostas diretas a perguntas sobre os temas mais falados do momento. Os principais pontos são:

Melhorias nos recursos de engenharia de software: "Percebemos que não se trata apenas de abordar as preocupações do Reino Unido. Esse tema tem muito peso e, até certo ponto, é a base para o desenvolvimento futuro da Huawei... Não é uma simples questão de atender às exigências da NCSC, mas sim algo que a Huawei deve fazer para o nosso desenvolvimento a longo prazo... Ao nosso ver, estes são os alicerces que permitem à Huawei concretizar nossa ambição a longo prazo."
5G: "A tecnologia 5G pode trazer benefícios ao público em geral, permitindo que todos desfrutem de uma experiência digital muito melhor. Certamente não se trata de uma bomba atômica, pois o 5G não machucará as pessoas."
Fundo de US$ 2 bilhões: "Este orçamento de US$ 2 bilhões é apenas um fundo inicial... Espero que, com os nossos esforços nos próximos três a cinco anos, possamos realmente criar produtos confiáveis para governos e consumidores, de modo a apoiar e sustentar o desenvolvimento da Huawei a longo prazo."
Segurança cibernética: "Acredito que tecnologia é tecnologia. No final das contas, para que isso aconteça, tudo vai depender dos cientistas e engenheiros. Acredito que eles prefiram um padrão global unificado, para que as pessoas possam seguir esse padrão para desenvolver produtos melhores."
Futuro: "Enquanto houver um futuro, essa será a nossa maior vitória. E muitos dos nossos funcionários possuem ações da empresa. Acho que eles entenderiam essa escolha. Preferem ter uma rentabilidade menor hoje para um futuro mais a longo prazo em vez de mais lucros hoje sem um futuro a longo prazo para a empresa."
Huawei no Reino Unido: "A colaboração da Huawei com o governo e também com a indústria do Reino Unido tem sido um modelo exemplar da cooperação entre China e Reino Unido."

Transcrição completa

1. PC Pro: Minha pergunta é sobre como vocês dividem suas atividades de pesquisa e desenvolvimento. Qual é o tipo de equilíbrio de prioridades entre física básica e pesquisa e desenvolvimento de recursos direcionados pelos clientes?

Eric Xu: A Huawei estabeleceu um sistema de gerenciamento de investimentos em pesquisa e desenvolvimento que é semelhante ao de outros protagonistas do setor, mas que, ao mesmo tempo, também é um pouco diferente. Nosso sistema de gerenciamento e processos de pesquisa e desenvolvimento se chama IPD (Integrated Product Development - Desenvolvimento Integrado de Produtos). Esse processo foi estabelecido em 1998 com a ajuda da IBM, que prestava serviços de consultoria para a Huawei. Nesse sistema de gerenciamento e processos, existem investimentos para o futuro, essencialmente em pesquisa e inovação, e também investimentos para o desenvolvimento de produtos orientados às necessidades dos clientes. Parte disso é também o investimento em recursos e técnicas de engenharia, essencialmente em torno de como desenvolver os produtos que oferecemos aos nossos clientes. Portanto, os investimentos relacionados à pesquisa e desenvolvimento estão divididos em três partes, e temos um orçamento separado para cada uma delas quando analisamos nosso plano de negócios anual. Temos equipes dedicadas de governança para tomar decisões em termos de como gastar esses investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

No que diz respeito à parte voltada às exigências dos clientes, ou, como vocês diriam, às funcionalidades e aos recursos, os responsáveis pela tomada de decisões são o IRB (Investment Review Board - Conselho de Análise de Investimento) ou a IPMT (Integrated Portfolio Management Team - Equipe Integrada de Gerenciamento de Portfólio). A IPMT toma decisões sobre pesquisas em tecnologias inovadoras orientadas para o futuro. Essas equipes tomam decisões sobre o que desenvolver, o que não desenvolver e quando entregar.

2. PC Pro: Quanto tempo dura esse ciclo de análise?

Eric Xu: O ciclo de análise não é mensal. Também não é trimestral. Ele se baseia naquilo que chamamos de pontos de verificação no processo de pesquisa e desenvolvimento.

Para investimentos em pesquisa, inovação ou geradores de patentes, nossa equipe de tomada de decisões é a ITMT (Integrated Technology Management Team - Equipe Integrada de Gerenciamento da Tecnologia). Ao longo da história, a porcentagem média de investimentos relacionados à pesquisa e inovação correspondia a cerca de 10% dos nossos gastos totais em pesquisa e desenvolvimento. Porém, nos últimos anos, aumentamos essa porcentagem para cerca de 20%. E esperamos poder chegar a 30% no futuro. Portanto, temos equipes dedicadas, orçamentos dedicados e mecanismos de tomada de decisões para administrar e gerenciar esse investimento voltado para o futuro, e é aqui também onde muitas das nossas patentes são produzidas. Ao mesmo tempo, temos uma equipe bem grande, além de um mecanismo de tomada de decisão correspondente, para desenvolver produtos que atendam às necessidades dos clientes no mercado.

Por exemplo, considere o 5G. Foi a ITMT que tomou a decisão em 2009 de iniciar nossos esforços de pesquisa em 5G. Anunciamos a notícia no Reino Unido de que a Huawei investiria US$ 600 milhões em pesquisa na área de 5G. Ainda hoje, as atividades de pesquisa em 5G não estão totalmente concluídas. Porém, no caso do desenvolvimento de produtos 5G, com base em nossas descobertas de pesquisa, o processo foi iniciado há três anos, e essa decisão foi tomada pelo nosso IRB e pela IPMT.

3. Computer World: Houve algum momento na história em que a atenção se voltou para o 5G a ponto de torná-la uma tecnologia estratégica e essencial para a empresa? Em 2009, você disse que a tecnologia ainda não existia, mas que, em X anos, poderíamos conquistar esse mercado.

Eric Xu: O panorama não é tão notável como você descreveu. Há uma certa regra a seguir, um determinado padrão de história quando analisamos o setor de comunicações móveis em que estamos. Após o 2G, certamente haveria o 3G, seguida sem sombra de dúvidas pelo 4G e depois pelo 5G. O que está na minha mente agora é o 6G. Após o lançamento de produtos 4G no mercado, sob o ponto de vista de pesquisas, certamente nossas equipes passaram a analisar o 5G.

Na verdade, o 5G não é um termo que abrange uma tecnologia única. Trata-se de uma geração de tecnologias para comunicação móvel. Depois que os esforços de pesquisa em 4G foram concluídos, naturalmente nossas equipes passaram a concentrar as pesquisas em torno da próxima geração de tecnologias de comunicação móvel. O 5G é a soma dessas tecnologias de comunicação móvel de próxima geração.

Basicamente, os esforços de pesquisa em 5G serão concluídos em 2019, e nossas equipes de pesquisa se voltarão a questões sobre, por exemplo, como as tecnologias de comunicação móvel poderão evoluir no futuro? Quais são as tecnologias que podem vir a fazer parte da categoria da próxima geração, ou o 6G? Nossas equipes de pesquisa vão organizar suas pesquisas e atividades criativas em torno desse tipo de questão. Eu antecipo que, até 2028, 2029 ou 2030, veremos o 6G como um tema amplamente discutido, exatamente como acontece hoje com o 5G. E este é o padrão ou a regra do nosso setor. Se você não trabalha com o 5G, isso significa que não há um futuro para você.

Para cada nova geração de tecnologias, algumas empresas não conseguem acompanhá-las, enquanto outras surgem ainda mais fortes.

4. The Daily Telegraph: Você tem alguma resposta em particular aos comentários de Mike Pompeo sobre o papel que as empresas chinesas podem desempenhar na implementação do 5G? Considerando que algumas empresas na Alemanha e na França parecem indicar que não seguirão necessariamente a liderança dos EUA no que diz respeito ao assunto, isso seria um sinal de que a China está ganhando o debate?

Eric Xu: Certamente não tenho como comentar se a China ganhou ou não o debate. Li as declarações do Sr. Pompeo feitos na Hungria ontem e na Polônia hoje, mas naturalmente o conteúdo estava em chinês. Acho que as declarações do Sr. Pompeo são apenas mais uma indicação de que o governo dos EUA está empreendendo uma campanha geopolítica bem coordenada contra a Huawei. Em essência, é como usar uma máquina nacional contra uma pequena empresa, do tamanho de uma semente de gergelim.

A Huawei é uma empresa com 30 anos de idade que atende a mais de 3 bilhões de pessoas em 170 países e regiões. Que tipo de empresa realmente somos? Acho que nossos clientes, os parceiros com quem trabalhamos e as 3 bilhões de pessoas que atendemos sabem muito bem a resposta.

Então, nós questionamos, e acho que muitas outras pessoas podem estar fazendo a mesma pergunta: essa recente fixação pela Huawei é realmente uma questão de segurança cibernética ou será que existem outras motivações?

Eles estão realmente considerando a segurança cibernética e a proteção da privacidade das pessoas em outras nações ou será que existem outros motivos?

Algumas outras pessoas argumentam que os americanos estão tentando obter vantagem financeira para as negociações comerciais entre os EUA e a China. Outras argumentam que, se os equipamentos da Huawei fossem usados nesses países, as agências americanas teriam mais dificuldade em obter acesso às informações dessas pessoas ou teriam mais dificuldade em interceptar as comunicações móveis desses países ou de seus líderes.

Eu acredito na sabedoria das 7 bilhões de pessoas no mundo. Acho que elas podem ver claramente essas diferentes possibilidades.

5. Financial Times: Eu vi sua entrevista com a imprensa alemã, e você mencionou que a segurança cibernética está, em parte, relacionada à política ou a ideologias. Sendo assim, se a segurança cibernética é uma questão de política e se o governo dos EUA tem motivações políticas, como você vislumbra o resultado final daqui a, digamos, cinco a dez anos? O mundo cibernético e a comunidade tecnológica poderão ficar divididos, com uma parte liderada pela China e a outra pelos EUA? Pessoalmente, eu concordo com você, mesmo não podendo falar em nome de todo o Financial Times, se há viabilidade técnica para isso.

Eric Xu: A segurança cibernética em si é, certamente, uma questão técnica que requer experiência para ser resolvida, e é também nisso que todos os cientistas e engenheiros do mundo vêm trabalhando, tentando lidar com a segurança cibernética. Nesse contexto, a Huawei tem trabalhado com diferentes governos e parceiros do setor na esperança de implementar padrões estabelecidos, de forma que as pessoas possam usar esses padrões para avaliar a segurança dos produtos de todos os fornecedores.

Recentemente, vimos a estreita união entre o 5G e a segurança cibernética, e acho que as pessoas sabem claramente quais são as origens dessa união. Quando observamos os principais fornecedores de equipamentos para 5G, temos a Nokia, a Erickson, a Huawei, a Samsung e a ZTE. Como você pode ver, não existem empresas americanas aqui. A China e a Europa têm trabalhado juntas, tentando implementar um padrão global unificado para o 5G e também para o futuro das tecnologias de comunicação móvel, a fim de reduzir o custo geral e melhorar o retorno sobre o investimento para todos os participantes do setor.

Por meio dos esforços concentrados do setor, estamos vendo emergir um padrão global unificado para o 5G. Isso significa que todos os envolvidos podem seguir esse padrão à medida que desenvolvem produtos relacionados ao 5G. Mas agora, alguns políticos transformaram o 5G ou a segurança cibernética em discussões políticas ou ideológicas, que eu acredito não serem sustentáveis.

Acredito que tecnologia é tecnologia. No final das contas, para que isso aconteça, tudo vai depender dos cientistas e engenheiros. Acredito que eles prefiram um padrão global unificado, para que as pessoas possam seguir esse padrão para desenvolver produtos melhores.

Naturalmente, quando observamos diferentes países, estes certamente têm a opção, considerando suas próprias condições específicas, de escolher os fornecedores certos que eles julgam adequados ao implantarem suas redes. Isso é natural quando analisamos a história do setor de comunicações móveis.

Os equipamentos 4G da Huawei não estão implantados em todos os países do mundo. E nós certamente não esperamos que nossos equipamentos 5G sejam escolhidos por todos os clientes em todos os países. Em vez disso, nosso foco está em fornecer bons serviços aos países e às operadoras de telecomunicações que escolheram a Huawei.

Para dar um exemplo, a China Mobile Guangzhou não escolheu os equipamentos 4G da Huawei, apesar de a cidade de Guangzhou estar muito perto da nossa sede em Shenzhen. Então, acho que isso é normal. O tamanho do mercado da Austrália é ainda menor que o da China Mobile Guangzhou. O tamanho do mercado da Nova Zelândia é ainda menor que o de Yiyang, uma pequena cidade na China, que é minha cidade natal. Nossos equipamentos não são usados pela China Mobile Guangzhou, então não vejo problemas por não sermos escolhidos em certos países. Temos capacidade limitada. Certamente, não podemos atender a todos os clientes em todos os países. E, certamente, não temos como dominar todo o mercado. Até mesmo em (alguns) mercados muito próximos da nossa sede em Shenzhen, nossos equipamentos não são usados. Isso é realmente normal no nosso setor. Em vez disso, preferimos manter o foco em atender aos países e clientes que estão dispostos a trabalhar com a Huawei.

6. New Statesman: O Politico publicou relatos durante os finais de semana de que Donald Trump estaria considerando uma ordem executiva para proibir equipamentos da Huawei nos EUA. Gostaria de saber sua opinião sobre o impacto que isso teria sobre a capacidade dos EUA de implementar o 5G e até que ponto é preocupante a perspectiva de ter uma superpotência global retirando o suporte à Huawei. O quanto lhe preocupa a perspectiva de um país com as proporções dos EUA proibir a Huawei?

Eric Xu: Em primeiro lugar, quero compartilhar com você que os equipamentos de infraestrutura da Huawei basicamente não estão presentes no mercado dos EUA. No momento, até mesmo os smartphones praticamente não estão presentes lá. Ao longo da história, os equipamentos 4G da Huawei têm atendido a operadoras rurais nos Estados Unidos, fornecendo serviços universais a pessoas que vivem em áreas rurais remotas. Eu cheguei a ler essas reportagens da imprensa que você mencionou, mas não importa qual seja o resultado, acho que isso não teria um grande impacto sobre os negócios da Huawei. Porque, como mencionei há pouco, praticamente não temos presença comercial nos EUA e não temos a expectativa de criar uma presença marcante lá.

7. PA: Em relação ao Reino Unido, no final do ano passado, tanto o chefe do MI6 quanto o ministro da defesa deram a entender vagamente que não tinham certeza sobre a segurança da Huawei. Fiquei sabendo há pouco tempo que a Prince's Trust disse que iria parar de aceitar doações da empresa. Apenas queria conhecer a sua perspectiva sobre o quanto isso é frustrante, em termos de ainda ter que lidar com coisas desse tipo, considerando tudo o que acabamos de falar também.

Eric Xu: O governo do Reino Unido teve preocupações com a segurança dos equipamentos da Huawei. É exatamente por isso que a Huawei trabalhou em conjunto com o governo do Reino Unido para implantar o HCSEC, o Centro de avaliação de segurança cibernética, de forma que pudéssemos nos envolver em parcerias visando abordar essas preocupações. Trata-se de um modelo de colaboração aberta entre o governo do Reino Unido e a Huawei para abordar as preocupações acerca dos equipamentos da Huawei implantados em redes do Reino Unido.

Ainda esta manhã, li um artigo de autoria de Robert Hannigan, ex-diretor do GCHQ, publicado no Financial Times. Esse artigo explicou bem todas as questões que você levantou e sugiro que você o leia. Para proteger a segurança cibernética do Reino Unido e atender bem ao povo britânico, o GCHQ implementou toda uma série de sistemas e mecanismos para garantir níveis sólidos de gerenciamento e regulamentação das redes de comunicação móvel. E eu também concordo com o que Robert disse no subtítulo, que julgamentos técnicos devem ser feitos com uma visão clara da ameaça em potencial. O assunto não deveria ser simplesmente politizado. Acho que Robert é capaz de responder à sua pergunta muito melhor do que eu.

Agora, sobre a segunda parte da pergunta: A Prince's Trust parou de aceitar doações da Huawei. A meu ver, a Huawei não se sente frustrada com isso. Tomamos a decisão de fazer doações para a Prince's Trust com base em nosso grande respeito às notáveis conquistas que a fundação realizou na assistência aos jovens. Não teve nada a ver com política. Recebemos com tristeza essa decisão tomada com base em conversas parciais e infundadas a respeito da Huawei, sem ao menos falar antes com a empresa.

Pensando bem, acho que o fato de a Prince's Trust aceitar ou não as doações da Huawei não causará impacto nenhum para a empresa. Mas, novamente, como acabei de mencionar, prestamos nossa maior homenagem ao que a fundação fez no passado ao prestar assistência aos jovens.

8. Computer World: Acho interessante que a Huawei tenha um bom relacionamento histórico com dois dos países da Five Eyes, especialmente por esses países serem o Canadá e o Reino Unido. Estou curioso para saber se você poderia explicar um pouco melhor o relacionamento entre a Huawei e o serviço de inteligência dos países da Five Eyes. Estou apenas especulando aqui, mas suponho que, se eles têm recursos para interceptar comunicações de fibra, então provavelmente também têm a capacidade de interceptar comunicações de uma caixa. Sendo assim, eu me pergunto até que ponto a Huawei já cooperou com o serviço de inteligência dos países da Five Eyes?

Eric Xu: Não estou muito a par da cooperação da Huawei com o serviço de inteligência dos países que você mencionou, mas sei sobre o envolvimento da Huawei com o GCHQ no Reino Unido. A colaboração da Huawei com o Reino Unido é construtiva. Não se trata simplesmente de um Sim ou Não. Pelo contrário, ela se baseia nas respectivas prioridades à medida que trabalhamos no sentido de encontrar soluções técnicas e regulatórias para que essa parceria possa continuar.

A colaboração da Huawei com o governo e também com a indústria do Reino Unido tem sido um modelo exemplar da cooperação entre China e Reino Unido. O investimento e o desenvolvimento da Huawei no Reino Unido, bem como seu envolvimento com o governo do Reino Unido, foram usados como um estudo de caso ao se analisar o envolvimento governamental e de pessoas para pessoas entre a China e o Reino Unido. Este é um modelo construtivo e amigável de cooperação que ajudou a abordar e eliminar as diferenças de valores e culturas entre o oriente e o ocidente. O modelo permitiu que a Huawei investisse e desenvolvesse constantemente no Reino Unido, além de possibilitar que nossos clientes de telecomunicações usassem as tecnologias, os produtos e as soluções da Huawei no atendimento ao povo britânico.

Porque temos visto muitos casos em que, à luz das diferenças de valores e culturas, as partes tendem a acabar em um confronto, ou em um Sim ou Não, sem um meio termo. Tem sido muito difícil para partes relacionadas encontrar um modelo de colaboração construtivo e amigável capaz de abordar eficientemente as preocupações e as prioridades umas das outras.

A Huawei tem desfrutado de uma excelente colaboração com o Reino Unido. Isso acontece em grande parte porque o Reino Unido tem sido um forte defensor da abertura e do livre comércio. O Reino Unido usa regras claras e uma regulamentação racional para lidar com possíveis preocupações que possam surgir. E eu acredito que isso seja o pilar que faz do Reino Unido uma nação de abertura e liberdade.

9. PC Pro: Acho que minha pergunta é sobre "convergência". Esta manhã, vemos uma divisão corporativa, que é uma plataforma de serviços de rede IP. Nesse espaço, as pessoas estão se tornando muito interessadas no monitoramento de redes e em práticas forenses em redes, pois é um assunto difícil e o ponto no qual todo o tráfego se concentra. No espaço de telecomunicações, no espaço da empresa de comunicação, há mais do que apenas essa rede. Existem os caixas eletrônicos, e outro padrão está disponível. Porém, os requisitos do governo para ter certeza de que você está se comportando bem são os mesmos que os da empresa. No entanto, as ferramentas são muito diferentes. Você vê uma convergência no ponto em que o tráfego 5G usa padrões corporativos para movimentação e, portanto, pode fazer uso da divulgação corporativa? Você acha que isso ajuda a resolver o problema de ter apenas um aparelho em operação com uma luz na frente, sem ninguém saber que tipo de tráfego ele gera, o que parece ser a origem de todo o medo? Então, o trabalho na empresa também está ajudando a resolver problemas na infraestrutura de telefonia, se esta for uma questão?

Eric Xu: Se todos os desafios de segurança cibernética fossem problemas técnicos, acho que certamente poderíamos encontrar soluções técnicas ou regulatórias para resolvê-los. E, como todos sabemos, a segurança cibernética representa um desafio que todos no mundo estão enfrentando. Portanto, as pessoas prestaram atenção especial à segurança cibernética quando trabalharam na seleção de tecnologias relacionadas ao 5G na mesma proporção a quando trabalharam na definição de padrões relacionados ao 5G. O 5G, de todas as tecnologias escolhidas e sob um ponto de vista de padrões, é mais segura do que as gerações anteriores de tecnologias de comunicação móvel: 2G, 3G ou 4G. Acho que isso é algo que as pessoas podem facilmente confirmar quando conversam com especialistas do 3GPP ou da GSMA.

As informações transmitidas através de redes 5G têm criptografia de 256 bits incorporada. Isso significa que as pessoas precisam usar computadores quânticos, que ainda não existem no mercado atual, para possivelmente interceptar essas informações transmitidas.

10. PC Pro: Mas é isso o que quero dizer com convergência, porque o processo todo ocorre pelo ar. E as preocupações das pessoas giram em torno da infraestrutura.

Eric Xu: Analisando o 5G, vemos sinais saindo de telefones celulares em direção a estações base e, em seguida, movendo-se para a rede. Nas redes do Reino Unido, a Huawei fornece apenas estações base. E, para as camadas de rede acima das estações de base, a Huawei não fornece equipamentos. Como Robert disse em seu artigo, a Huawei não entra na parte "central" da rede.

As camadas de rede acima das estações base são fornecidas por outros fornecedores e não têm nada a ver com a Huawei.

11. Financial Times: A Huawei fornece apenas estações base no Reino Unido. Essencialmente, há criptografia de dados transmitidos dos dispositivos dos usuários até as estações base. Essas informações são descriptografadas à medida que são transmitidas das estações base para outras camadas da rede?

Eric Xu: A criptografia ou descriptografia é assunto das operadoras de telecomunicações ou dos governos.

Financial Times: A criptografia é feita por meio dos seus equipamentos?

Eric Xu: As chaves de criptografia estão nas mãos dos governos ou das operadoras de telecomunicações, com certeza não nas mãos da Huawei.

12. Financial Times: Conforme eu observei, o relatório de 2018 da NCSC apontou as áreas de melhorias de componentes de terceiros usados nos produtos da Huawei. Algumas pessoas argumentaram que isso está relacionado à cultura corporativa da Huawei. Em comparação com a empresas europeias, a impressão é de que a Huawei está mais disposta a absorver componentes de diferentes origens à medida que constrói seus produtos. Em alguns argumentos extremos, como na acusação das autoridades norte-americanas, a Huawei chegou até mesmo a incentivar os funcionários a absorver tecnologias de outras empresas. Vocês têm um orçamento de US$ 2 bilhões em pesquisa e desenvolvimento para resolver essa questão sobre componentes de terceiros. Essa questão sobre componentes de terceiros está relacionada à cultura corporativa da Huawei ou existe algum outro motivo? Como vocês pretendem abordar esses desafios nos próximos anos?

Eric Xu: Primeiro, eu diria que sua compreensão não está correta. O software de terceiros ao qual você está se referindo se chama VxWorks. É um sistema operacional fornecido por uma empresa americana chamada Wind River. Pensamos que usar um sistema operacional de uma empresa dos EUA nos ajudaria a conquistar a confiança do governo do Reino Unido, mas está evidente que esse não foi o caso.

Para qualquer produto, não importa se é hardware ou software, dependemos de um sistema operacional à medida que desenvolvemos o produto. Por exemplo, os desenvolvedores usam o Windows ou o Linux enquanto desenvolvem softwares aplicativos e, portanto, nós precisamos usar um sistema operacional enquanto desenvolvemos softwares de estações base. Para as estações base da Huawei implantadas no Reino Unido, escolhemos o VxWorks da Wind River. É claro que existem outros softwares de terceiros e softwares de código-fonte aberto também.

O que o relatório de OB quis dizer em essência é que a Huawei precisa melhorar em certas áreas na maneira como gerencia softwares de terceiros. Ele não está dizendo que esses softwares não podem ser usados, porque, se esse for o caso, significa que todas as empresas talvez precisem reinventar a roda ou redesenvolver os softwares embutidos em seus produtos. Significa ter que reconstruir o Windows, o Linux e os bancos de dados Oracle, o que não é possível.

Depois que essa questão foi levantada no relatório, conversamos com a Wind River. A empresa nos disse que o VxWorks e as próprias versões que estávamos usando na época nas redes do Reino Unido são amplamente utilizados em outros setores no Reino Unido, alguns dos quais ainda mais sensíveis em comparação com o setor de telecomunicações. Portanto, em nosso processo de desenvolvimento de softwares, usamos sistemas operacionais e bancos de dados de terceiros. Também usamos softwares de código-fonte aberto. Isso não tem nada a ver com a nossa cultura corporativa. É algo absolutamente natural para todas as empresas, desde que elas trabalhem no desenvolvimento de produtos, pois é simplesmente impossível para uma empresa fazer tudo sozinha.

Algumas pessoas podem questionar por que a Huawei precisaria de três a cinco anos para melhorar seus recursos de engenharia de software. Qual é a finalidade do investimento adicional de US$ 2 bilhões?

Talvez eu precise de um bom tempo para resolver essa questão. Não acho que você esteja disposto a passar todo esse tempo comigo.

No momento em que estabelecemos o HCSEC com o governo do Reino Unido, isso foi feito principalmente para resolver as preocupações do governo do Reino Unido de que pudesse haver tecnologias clandestinas de backdoor nos produtos da Huawei. Em seguida, entregamos ao HCSEC nosso código-fonte, que foi então verificado por cidadãos britânicos com autorização de DV. Eles analisaram o código-fonte e não encontraram backdoors em nossos produtos.

O fato de termos entregado o código-fonte ao HCSEC britânico e os extensos testes realizados pelo HCSEC constataram que não há backdoors em nossos produtos. Isso é algo que Robert também mencionou em seu artigo, dizendo que o GCHQ não encontrou nenhum backdoor nos equipamentos da Huawei. As preocupações atuais de alguns países a respeito de backdoors já foram resolvidas há tempo no Reino Unido.

E eu acho que toda a discussão em torno disso foi resolvida há muito tempo no Reino Unido quando a Huawei decidiu entregar o código-fonte ao Reino Unido para testes.

Depois disso, o próximo passo do HCSEC foi examinar os produtos da Huawei para ver o quanto eles são resistentes no sentido de proteção contra ataques, penetração e outras possíveis ameaças.

Passamos oito anos aprimorando os recursos defensivos dos produtos da Huawei contra possíveis ataques e penetrações. Com os esforços dos últimos anos, a Huawei hoje é a mais forte em termos dessas dimensões, e isso não é algo que nós mesmos estamos alegando. Essa conclusão baseia-se em avaliações e testes amplos e objetivos realizados pela Cigital, uma empresa norte-americana especializada nessa área.

A Cigital é uma empresa especializada em avaliações de maturidade da engenharia de segurança de softwares. A empresa começou a avaliar a segurança dos produtos da Huawei em 2013. Esse processo de teste e análise é feito anualmente em 12 áreas de atuação. A Huawei é uma das primeiras colocadas do setor em nove áreas de atuação. E, nas outras três, a Huawei tem um desempenho melhor que a média do setor.

Porém, também estamos cientes de que o ambiente de ameaças de segurança está em constante transformação. As tecnologias relacionadas a ataques e penetrações continuam evoluindo, e os hackers estão se tornando cada vez mais fortes. Se você tem apenas recursos sólidos de segurança ou uma forte defesa contra possíveis ataques e penetrações, é como ter um coco cuja casca é muito dura. E se a casca estivesse rachada? As coisas não deveriam ser como em um coco de verdade, que só tem água dentro.

Portanto, as áreas de foco da nossa colaboração com o Reino Unido foram ampliadas para considerar não apenas a casca do coco, como também o que está dentro dele, que é essencialmente a resiliência dos equipamentos, e não apenas os resultados, mas também a alta qualidade e a confiabilidade do processo de desenvolvimento dos produtos. O escopo foi ampliado da segurança para a resiliência, de apenas resultados para resultados e processos.

E lembrando que o HCSEC tem acesso ao código-fonte da Huawei e, portanto, são capazes de dizer com facilidade se esses códigos-fonte foram escritos de uma maneira legível e fácil de modificar e se a base do código é robusta. É como se estivéssemos "nus" na frente do HCSEC.

Agora, o HCSEC está dizendo que nossa base de código não é boa. Essa base de código é algo que tem sido desenvolvido pela Huawei nos últimos 30 anos no setor de comunicações. É como o software Windows. A Huawei precisa melhorar a capacidade de leitura e modificação do código, bem como o processo de produção de código, para que possamos fornecer alta qualidade e confiabilidade tanto nos resultados quanto nos processos. Foi assim que o foco mudou para os processos de produção de software, ou o que chamamos de recursos e práticas de engenharia de software. A ideia é adotar um padrão sólido e robusto que seja resistente ao tempo para avaliar e solicitar melhorias na nossa base de código legada existente há 30 anos.

Os riscos de segurança que enfrentamos e as técnicas de software que usamos no passado eram diferentes dos de hoje, e as habilidades de codificação das pessoas também melhoraram em comparação com o passado. Naturalmente, existem lacunas em relação aos requisitos para o futuro. Se quiséssemos refatorar e até mesmo reescrever o código legado desenvolvido nos últimos 30 anos, o investimento necessário seria enorme, e isso também teria impacto no cronograma do projeto em termos de funcionalidades e recursos que oferecemos aos nossos clientes hoje em dia no mercado.

Sobre esse tema específico, houve um longo e intenso debate entre a Huawei e a NCSC. Queríamos apenas nos concentrar no novo código, em vez de na refatoração de todo o código legado. Quase todos os executivos da Huawei estiveram envolvidos nesse debate com a NCSC e, no decorrer do processo, nós mesmos passamos a ter uma compreensão mais profunda do que significa refatorar um código legado e cultivar alta qualidade e confiabilidade no processo de desenvolvimento. Percebemos que não se trata apenas de abordar as preocupações do Reino Unido. Esse tema tem muito peso e, até certo ponto, é a base para o desenvolvimento futuro da Huawei.

Porque, como sabemos, a expressão "nuvem, inteligência e software definem tudo" está se tornando cada vez mais predominante, e o futuro verá o software como uma parte muito importante disso tudo. Precisamos garantir que nossos softwares sejam confiáveis para nossos clientes ou autoridades governamentais. Para tanto, precisamos garantir alta qualidade e confiabilidade não apenas nos resultados, mas também nos processos ao produzir esses softwares. Ao nosso ver, estes são os alicerces que permitem à Huawei concretizar nossa ambição a longo prazo.

Fui falar pessoalmente com a NCSC duas vezes e percebi que não podíamos continuar a nos confrontar. Não é uma simples questão de atender às exigências da NCSC, mas sim algo que a Huawei deve fazer para o nosso desenvolvimento a longo prazo. Depois de voltar do Reino Unido, consegui convencer outros executivos da equipe de liderança e chegamos a uma resolução da diretoria para dar início a um programa abrangente de transformação da engenharia de software.

13. Financial Times: Quando isso aconteceu?

Eric Xu: Isso foi no final do ano passado. Na verdade, o debate na sala de diretoria que levou a essa decisão foi bastante acirrado e, no final, tivemos a decisão da diretoria no sentido de aprimorar fundamentalmente nossos recursos e práticas de engenharia de software, com o objetivo de desenvolver produtos confiáveis. Essa transformação levará de três a cinco anos para ser concluída. Essencialmente, usaremos os padrões e os requisitos futuros para reformular nosso processo de produção de software e seguiremos esses padrões futuros enquanto trabalhamos para refatorar nosso código legado.

Precisamos trabalhar para atender às exigências atuais dos nossos clientes ao mesmo tempo em que trabalhamos na refatoração do código. Então, definitivamente precisamos ter um orçamento adicional. É aí que entram os US$ 2 bilhões. Basicamente, eles seriam usados principalmente para refatoração do código legado, treinamentos ou reforços entre nossos engenheiros de pesquisa e desenvolvimento e assim por diante. Infelizmente, sou a pessoa responsável por esse programa de transformação, o que significa que terei muito mais trabalho pela frente nos próximos cinco anos. E já passei muito tempo trabalhando recentemente nesse programa.

Este orçamento de US$ 2 bilhões é apenas um fundo inicial. Ele definitivamente não será o suficiente. Espero que, com os nossos esforços nos próximos três a cinco anos, possamos realmente criar produtos confiáveis para governos e consumidores, de modo a apoiar e sustentar o desenvolvimento da Huawei a longo prazo. Por esse motivo, nosso fundador e CEO, o Sr. Ren, enviou uma carta aberta a todos os funcionários como o primeiro documento corporativo publicado em 2019. Trata-se de melhorar de forma abrangente os recursos e práticas de engenharia de software para desenvolver produtos confiáveis e de qualidade.

Posso fazer uma analogia simples para explicar o que significa alta qualidade para o processo. Muitas pessoas gostam de comida chinesa, mas talvez poucas tenham visitado e conferido a cozinha ou poucas saibam quais são os movimentos e as atividades que um chef precisa seguir para preparar a comida chinesa que é colocada à mesa.

Agora, é uma questão de entrar na cozinha e definir todo um conjunto de procedimentos, processos, padrões e códigos de conduta que o chef poderá seguir para preparar uma comida saborosa. Se o chef não seguir as etapas ou atividades específicas do processo, talvez a comida no final não fique tão saborosa e, por isso, você precisa identificar quais movimentos específicos ele não seguiu e corrigir essas falhas para a comida voltar a ficar saborosa. Essa é basicamente a essência do nosso programa de transformação para melhorar nossos recursos de engenharia de software. Trata-se de entregar um código de software de alta qualidade e confiável no final do processo e também de proporcionar alta qualidade e confiabilidade durante o processo de produção de software.

Eu diria que é uma jornada muito desafiadora, mas é algo que precisamos cumprir. Acho que essa é a minha resposta às suas perguntas sobre por que o programa demorará de três a cinco anos e por que os US$ 2 bilhões são apenas o fundo inicial.

Francamente, não sei quanto dinheiro será necessário para sustentar esse programa de transformação.

Mas, certamente, nós contamos com uma vantagem. Não somos uma empresa pública e, portanto, seria totalmente aceitável se lucrássemos menos hoje. Enquanto houver um futuro, essa será a nossa maior vitória. E muitos dos nossos funcionários possuem ações da empresa. Acho que eles entenderiam essa escolha. Preferem ter uma rentabilidade menor hoje para um futuro mais a longo prazo em vez de mais lucros hoje sem um futuro a longo prazo para a empresa.

14. New Statesman Tech: Você sabe estimar o quanto custaria para reescrever totalmente sua base de código?

Eric Xu: É o que estamos fazendo no momento. Estamos trabalhando no plano de alto nível para todo o programa de transformação. Depois que tivermos esse número, eu o divulgarei para você. Se tudo sair conforme o esperado, nosso cronograma é concluir esse plano de alto nível até o final de março.

Outra coisa que gostaria de dizer é que todas essas questões mencionadas agora não são exclusivas da Huawei. Acho que estes são desafios que todas as empresas do nosso setor precisam encarar. A única diferença é a extensão das melhorias necessárias, mas acredito que nenhuma empresa seja perfeita aqui e, além disso, tenho a impressão de que o cenário está mudando dinamicamente também. Qualquer empresa que entregue voluntariamente seu código-fonte ao Reino Unido para revisão por cidadãos britânicos com autorização de DV certamente ficaria exposta a um grande número de questões.

15. The Daily Telegraph: Desculpe voltar à questão dos custos, mas você poderia resumir o papel que o HCSEC desempenhará na inspeção e no monitoramento do novo código e do cronograma?

Eric Xu: Todos os códigos refatorados, ao entrarem nas redes do Reino Unido, serão analisados pelo HCSEC. Portanto, não importa se o resultado no final será bom ou ruim. Acredito que a NCSC certamente será informada. E, é claro, sob o ponto de vista da NCSC, eles podem dizer, tudo bem, estas são todas as expectativas e esperanças para o futuro. Estou ouvindo vocês, mas preciso realmente ver com meus próprios olhos o que vocês vão entregar no final.

Quando colocamos em prática o HCSEC, o objetivo era identificar problemas e áreas de melhorias, para que pudéssemos progredir. Certamente não se trata apenas de encontrar backdoors que não existem. Investimos 6 milhões de euros no HCSEC em 2018 e, é claro, queremos que os responsáveis identifiquem quaisquer áreas nas quais possamos tomar medidas para melhorar. Esse é realmente o objetivo. A meu ver, esse modelo também pode incentivar melhorias nas nossas equipes internas de pesquisa e desenvolvimento, já que é uma maneira de verificar os níveis de desempenho que elas estão atingindo.

16. Computer World: Gostaria de saber sua opinião sobre a Internet, considerando sua história em uma espécie de inteligência militar, como uma ferramenta para os serviços de inteligência militar dos EUA. Você acha que se trata apenas de um caso de máscaras que estão caindo, mostrando uma tecnologia mais abertamente política do que nunca e mais obviamente estratégica do que antes? Se você pensa assim, como isso poderia representar um problema e como lidar com esse problema?

Eric Xu: A tecnologia sempre esteve vinculada de uma forma ou de outra à política. O que é política? As pessoas podem politizar uma coisa se quiserem e podem não politizar outra se não quiserem. Como podemos resolver isso?

A humanidade tem seguido em uma longa jornada, e há muitas pessoas em todos os países que possuem a sabedoria correta. Com certeza, os avanços tecnológicos trazem benefícios para a humanidade. Isso é particularmente o caso da 5G. A tecnologia 5G pode trazer benefícios ao público em geral, permitindo que todos desfrutem de uma experiência digital muito melhor. Certamente não se trata de uma bomba atômica, pois o 5G não machucará as pessoas.

E, em seguida, para a proteção da privacidade, já existe o RGPD da União Europeia. O Reino Unido ainda faz parte disso no momento. Mesmo depois do Brexit, acredito que o Reino Unido apresentará seus próprios padrões de privacidade. Desde que todos os envolvidos sigam esses padrões, a privacidade será adequadamente mantida para as pessoas no Reino Unido e em toda a Europa.

Qualquer empresa que viole as estipulações do RGPD estaria sujeita a severas punições. Por isso, apreciamos muito os padrões e as regulamentações, como o RGPD. Ele é aberto, transparente e não discriminatório. E também é aplicável a todos os envolvidos. Todos precisam segui-lo, e aqueles que o violarem, serão punidos.

Acho que, sob o ponto de vista técnico, padrões semelhantes podem ser estabelecidos para segurança cibernética. Com padrões abertos, transparentes e não discriminatórios, haverá diretrizes claras para todos. Todos precisam seguir os padrões, e aqueles que os violarem serão punidos. É simples assim.

Se isso está relacionado a política ou ideologias, é uma conclusão totalmente baseada em suspeitas ou suposições. E se eu disser que você vai matar alguém no futuro? Acho que ninguém pode descartar 100% essa possibilidade.

Até certo ponto, isso descreve justamente o que a Huawei está enfrentando hoje.

17. Financial Times: Você mencionou que a ásia representa um mercado muito importante para a Huawei sob o ponto de vista do 5G e que a maturidade do mercado europeu não é tão alta quando se trata da adoção do 5G. Você poderia nos dar alguma sugestão em termos de quais países específicos na ásia realmente adotarão o 5G em grandes proporções? E qual será a participação de mercado que isso gerará para os negócios de 5G da Huawei?

Eric Xu: Para mim, existem três tipos de mercados quando se trata da adoção da 5G.

O primeiro tipo são os mercados com forte demanda pelo 5G. Esses países incluem a China, o Japão, a Coreia do Sul e alguns países do GCC.

O segundo tipo são os países desenvolvidos na Europa e os EUA também. Atualmente, esses países não têm uma forte demanda pelo 5G e ainda não estão tão desenvolvidos, mesmo em termos da implementação do 4G. Você conhece o número de estações base na França e como ele se compara ao número de estações base na cidade de Shenzhen? O número total de estações base 4G na França é menor que o de estações base implantadas apenas pela China Mobile Shenzhen.

O terceiro tipo são em grande parte os mercados em desenvolvimento, nos quais ainda não vemos uma demanda real pelo 5G no momento.

A receita da Huawei com o 5G nos próximos anos virá principalmente do primeiro tipo de mercado, e uma pequena proporção da nossa receita virá do segundo tipo de mercado.